ACERVO MUSICAL | Consulado da Portela de SP
 

ALDECY REIS

ALDECY REIS


Não fosse um namoro de juventude, as vidas de Aldecy Reis e Candeia jamais teriam se cruzado. Manacéa, um dos fundadores e maiores nomes da história da Portela, era tio de uma moça por quem Aldecy se apaixonou. O menino, que “escrevia algumas coisas, mas não divulgava”, foi sendo instigado pelo velho bamba. Chegou um sábado em que não houve mais como adiar, e veterano e jovem compositor foram para uma reunião da ala dos compositores da Portela.

Aos poucos, Aldecy, de andar elegante e voz afinada aos 80 anos, foi conquistando espaço ao cantar seus sambas de quadra. “Nessa época o Candeia já não frequentava mais a escola, mas fiquei sabendo que ele tomou conhecimento de quem eu era e ficou com vontade de me conhecer. Felinto, da ala dos compositores, começou a tramar alguma coisa nesse sentido”, relembra.
No dia do encontro de ambos, em Jacarepaguá, desenhou-se um mesmo esquema feito em tantas tardes e madrugadas: comida, bebida, batidas, sambas e versos de improviso. “Lá pelas tantas, jogaram no ar: 'por que você não faz um samba-enredo com o Aldecy, Candeia?' Eu tremi na base e ele topou”. Candeia, bem ao seu estilo, fez uma primeira parte e entregou ao novo parceiro para que ele terminasse. “Acho que isso foi em 1976”, relembra Aldecy. “Quando terminei de fazer, cantei pro Candeia, ele ficou olhando pro teto e perguntou se eu tinha viajado muito para escrever. Senti que ele gostou”.

A alegria pela parceria logo virou frustração, pois o samba foi derrotado e sua única gravação, garante Aldecy, é a que aparece no vídeo a seguir. Na defesa, realizada no Clube Imperial, o resultado da derrota chegou antes da madrugada. “O Candeia chorou quando contei. Disse que não aconteceria se ele estivesse lá”. Passada a frustração do Carnaval, Aldecy voltou à casa de Candeia numa segunda-feira. O sambista estava com de péssimo humor. “Olha só, se veio cantar nem adianta porque tô desde quinta-feira cantando samba, já não tô nem aí para nada”, disse Candeia para tristeza de Aldecy.

Sorte deles que Brêtas, um dos amigos mais próximos de Candeia, estava lá e falou para Aldecy cantar o que tinha ido mostrar. “Guarda esse sorriso tão antigo/Tenho outro mais amigo/Que me fez lhe esquecer”, cantou o compositor. “Peraí”, interveio Candeia. “Eu não quero ouvir porcaria. Pega lá meu violão, Brêtas!” E assim, naquela noite, nasceu Sorriso Antigo. “Já sofri demais/Agora eu tenho amor e paz.”